O Poder das Palavras
Imagine que é uma criança de 3 anos. Curiosa como qualquer outra criança aproxima-se do caixote do lixo e tenta pôr algo de lá na sua boca com intenção de o comer. No momento em que pegou naquela barra de chocolate já meia comida, a sua mãe grita “Não! Não comas isso. Isso é nojento!”. Você para e, ao mesmo tempo, compreende o que é que "nojento" significa.
Pelo resto da sua vida nunca mais comeu lixo, nunca voltou a tentar nem nunca teve as dores de estômago que viriam de comer comida estragada do lixo. A sua mãe, apenas através das palavras, conseguiu transferir a sua compreensão de nojo para si. O grito que a sua mãe fez foi uma “punição” que fortemente reprimiu o comportamento de comer algo do lixo.
Agora, sempre que ouve a palavra nojento em relação a algo, a sua reação a esse algo muda, fica de imediato mais cautelosa. Digamos que está a ver uma bonita flor no jardim quando a palavra “nojento” é atirada ao ar. Você imediatamente torna-se mais cautelosa, simplesmente por causa da sua história com essa palavra.
Imagine que alguém lhe diz que tem um cabelo nojento. Nesse momento todas as propriedades da palavra nojento são transferidas para si - você sente-se “nojenta”. Depois, tal como com o lixo, haverá a propensão para se afastar das partes de si que são “nojentas”. Talvez comece a evitar olhar para o seu cabelo, o lave excessivamente ou o tape com um chapéu quando está com outras pessoas.
Note que ninguém nos ensinou ou disse que deveríamos ser cautelosos com flores ou que deveríamos lavar o nosso cabelo excessivamente. A nossa mente impele-nos para o fazer pela associação com “nojento”.
Da inocente curiosidade de uma criança podemos ficar presos a uma vida de cautela, por isso, não acredite em tudo o que a sua mente lhe diz!
Adaptado de:
Hayes, L. L., & Ciarrochi, J. V. (2015). The thriving adolescent: Using acceptance and commitment therapy and positive psychology to help teens manage emotions, achieve goals, and build connection. New Harbinger Publications.
Até à próxima,
Ricardo Linhares