O que é a Personalidade - parte 4 - O modelo atual

Quando outros psicólogos pegaram nos estudos de Cattell, não chegaram à mesma conclusão que ele. No entanto, todos esses psicólogos chegaram exatamente à mesma conclusão.

4. Todos juntos

Quando o psicólogo Donald Fiske tentou repetir o trabalho de Cattell, não encontrou os 16 fatores de personalidade, em vez disso, encontrou apenas 5, repetidamente, em três estudos diferentes.

Fiske nomeou esses 5 fatores de Auto-expressão confiante, Adaptação social, Conformidade, Controlo emocional e Intelecto curioso. E estes foram os primeiros 5 Grandes Fatores (Big Five).

Outros dois psicólogos, Ernest Tupes e Raymond Christal, tentaram replicar o estudo de Cattell. Encontraram, novamente, apenas 5 fatores, que designaram de Emocionalidade Positiva (Surgency), Amabilidade, Confiabilidade, Estabilidade Emocional e Cultura. Estes foram os segundos 5 Grandes Fatores, porém é possível ver alguma semelhança nos nomes destes 5 com os 5 anteriores.

Mais tarde, Warren Norman e outros psicólogos, inspirados por o estudo de Tupes e Christal, realizaram os seus próprios estudos e, mais uma vez, encontram 5 fatores. Desta vez mantiveram a maioria dos nomes do estudo anterior, mudando apenas um - Confiabilidade passou a chamar-se de Conscienciosidade. Norman também adicionou mais uma série de palavras à lista inicial de Allport e Odbert, uma vez que tinha sido produzido um novo dicionário com mais expressões relevantes.

Desde então, os 5 fatores continuaram a reaparecer em vários estudos independentes (Borgatta, Digman e Inouye).

Lewis Goldberg, inicialmente cético do achado científico, realizou os seus próprios estudos desde a hipótese léxica até à análise fatorial, encontrando também 5 fatores. Desde aí Goldberg tem feito imensuráveis esforços na promoção da psicologia da personalidade, realizando inúmeras pesquisas e disponibilizando todos os dados online em open-source.

Num estudo paralelo, McCrae e Costa estudavam o trabalho dos diversos psicólogos da personalidade, analisaram os variados instrumentos de medição da personalidade que existiam, chegando também a 5 grandes fatores, designados de Neuroticismo (o oposto de estabilidade emocional), Extroversão, Amabilidade, Conscienciosidade e Abertura à Experiência. Utilizando os itens desses diferentes instrumentos, eles desenvolveram o NEO-PI-R, um dos instrumentos de avaliação de personalidade mais validados cientificamente.

Realça-se que este último, o trabalho de McCrae e Costa, foi um trabalho separado da hipótese lexical que começou com Galton, Allport e Odberg. E, embora ambos tenham chegado à mesma conclusão, que a personalidade humana pode ser descrita como estando algures em 5 Grandes Traços, os dois processos de investigação são de facto diferentes. A hipótese lexical é denominada por o Modelo dos 5 Grandes (Big Five) e a hipótese de McCrae e Costa é designada por o Modelo dos 5 Fatores. No entanto, os termos 5 Fatores e Big Five tendem a ser usados analogamente.

McCrae e Costa, na análise fatorial da aplicação do seu inventário de personalidade, dividiram cada um dos 5 fatores em 6 fatores mais específicos, perfazendo 30 fatores específicos e 5 fatores globais.

4.1. Avaliação da Personalidade nesta perspetiva

Várias medidas foram utilizadas por estes autores nas suas investigações.

Destaca-se o NEO-PI-R, pois este é o instrumento de avaliação de personalidade com maior validade e com maior quantidade de estudos que relacionam os diferentes traços a resultados no mundo real. Este inventário tem apenas a desvantagem de ter direitos de autor e por isso só está disponível a investigadores e psicólogo que tenham licença para a sua utilização.

Por outro lado, Goldberg promoveu o desenvolvimento de diversas medidas do Big Five (e algumas encontram-se validadas para utilizar em Portugal) e desenvolveu também o IPIP-NEO, um inventário análogo ao NEO-PI-R que mede os 5 Fatores globais e os 30 específicos.

Partindo do IPIP-NEO, John Johnson desenvolveu o IPIP-NEO-120, também como uma medida fiável dos 5+30 fatores. O IPIP-NEO-120 é um dos instrumentos que estou a adaptar para ser utilizável com a população portuguesa. Portanto, haverá oportunidade de participar no estudo e realizar o questionário, com resultado provisórios.

Referências

Até à próxima,

Ricardo Linhares

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