10 Mitos sobre psicologia, psicoterapia e psicólogos

Muitas das coisas que ouvimos dizer sobre psicologia podem não estar corretas, algumas são óbvias que não são verdade enquanto outras estão melhor disfarçadas.

Mito 1 – Os psicólogos conseguem ler a mente

Inicialmente, quando fui estudar psicologia frequentemente tinha essa ideia dos meus professores, pensando eu se eles saberiam quando eu estava a olhar, mas sem prestar atenção, ao que eles diziam. Por outro lado, fora das aulas, quando estava entre amigos, sabendo eles que eu estudava psicologia, recebia a pergunta “em que é que eu estou a pensar?”. Porém, não funciona assim.

Psicólogos estudam o funcionamento dos processos mentais e o comportamento humano. Nós sabemos como a mente funciona, e sabemos como se influência comportamento, mas não conseguimos ler a mente. 

Mito 2 – Só vai a um psicólogo quem tem problemas de saúde mental

Apesar de muitas pessoas que consultam um psicólogo lidam com a presença de coisas como depressão e ansiedade intensas e prolongadas, muitas pessoas também consultam um psicólogo quando:

  • Estão numa encruzilhada ou num ponto de viragem das suas vidas;

  • Notam que não estão como de costume e gostavam de falar com sobre as razões disso;

  • Precisam de apoio a navegar uma grande mudança de vida: reforma, casar, ser pai/mãe, começar a universidade, passar pelo fim de uma relação…;

  • Querem conhecer-se melhor;

  • Querem um sítio onde podem falar abertamente sobre assuntos que são demasiado pessoais ou perturbadores;

  • Querem sentir-se mais realizados na vida;

  • Notam os mesmos padrões a repetirem-se diversas vezes na vida e querem perceber isso melhor;

  • Têm um assunto específico ou decisão a tomar que tem de ser trabalhado.

Mito 3 – Falar sobre as suas emoções e pensamentos só vai piorar as coisas

Na realidade, o oposto é verdade. Falar sobre as coisas que são excruciantes é de facto difícil e no momento parece que ficamos pior, porém ao estarmos com essas coisas presentes aprendemos a lidar com elas de outras formas. Seja por perceber as coisas de outra maneira, esclarecer confusões, descobrir soluções, perceber como funcionam, conseguir alguma distância, sentir-se menos sozinho, etc.

Mito 4 – Os Psicólogos, sendo peritos em saúde mental, não têm problemas ou dificuldades na sua vida

Esta até não seria má se fosse verdade. Porém, mesmo percebendo como as mentes funcionam, somos claramente humanos e por isso experienciamos as dificuldades e problemas que são inerentes à humanidade, mais aqueles problemas e dificuldades que são individuais a cada pessoa.

É sempre um trabalho em progresso, e a cada momento aplicamos o que aprendemos para facilitar a navegação por tempos difíceis e mover-nos na direção daquilo que, individualmente, é mais importante para nós.

Mito 5 – Os psicólogos fazem sempre um diagnóstico de perturbações mentais

Apesar dos psicólogos que estudaram as áreas clínica e da saúde serem capazes de avaliar a presença de uma perturbação mental, nem sempre ajuda ou é relevante fazer tal avaliação. Além disso, uma grande parte das pessoas que consulta um psicólogo não cumpre critérios para uma perturbação do foro da saúde mental.

Muitos psicólogos, como eu, focam-se em explorar diretamente com o/a cliente as experiências que lhe são relevantes e daí trabalham em conjunto para perceber e mover os processos psicológicos que são responsáveis pelos problemas ou dificuldades.

Mito 6 – As perturbações mentais são causadas por um desequilíbrio químico no cérebro

A maioria das perturbações mentais (tais como depressão, ansiedade, pânico) são causadas por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. No nível social temos as coisas que nos acontecem na vida, no nível psicológico temos as nossas faculdades mentais como as nossas memórias e o modo como interpretamos as coisas, e no nível biológico temos predisposições genéticas e o impacto que essas coisas têm no nosso corpo.

A ideia de “corrigir o desequilíbrio químico” veio do facto dos antidepressivos alterarem os níveis de certos neurotransmissores do cérebro, porém isso não significa que a causa foram níveis errados de neurotransmissores, tal e qual como a causa de uma dor de cabeça não é falta de paracetamol no cérebro.

Este mito é frequentemente disseminado em publicidade, porém a investigação demonstra que pode estar a propagar o estigma sobre as doenças mentais, encorajando a ideia que os problemas do foro da saúde mental são permanentes e que são unicamente da responsabilidade do indivíduo e não da nossa sociedade.

Mito 7 – Os psicólogos são muito sérios e a psicoterapia é também muito séria.

Enquanto não posso falar pelos meus colegas, a grande maioria de psicólogos que conheço não são tão sérios como os que geralmente aparecem em filmes ou series de tv (e.g., dangerous method, in treatment, psi). Às vezes, é como se costuma dizer, rir é o melhor remédio.

Mito 8 – Falar com um psicólogo é a mesma coisa que falar com um amigo ou familiar

Enquanto há pessoas sem formação em psicologia que são boas confidentes e têm sempre um conselho sábio a dizer, falar com um psicólogo é uma experiência diferente. Um psicólogo ouve, mas sem julgar e aconselha, mas sem dizer o que a pessoa deve ou não fazer. Um psicólogo também faz da sessão um tempo unicamente para o/a cliente e guia uma exploração pelos seus problemas e dificuldades sem nenhuma outra intenção que não a promoção do bem-estar da pessoa. Além disso, ainda há uma série de métodos que vêm da investigação cientifica que os psicólogos utilizam.

Mito 9 – Quando estamos zangados, deitar as coisas cá para fora só faz bem

Eu sei que ainda há pouco disse que faz bem falar de pensamentos e emoções perturbadoras e geralmente é assim. Porém, a emoção de raiva e as suas primas frustração e irritação têm algumas peculiaridades.

Toda a gente sabe que berrar, destruir, ou de outra forma “deitar tudo cá para fora” sabe bem quando estamos zangados, frustrados ou irritados. Aliás, é por isso que o fazemos.

Contudo, ventilar (“deitar tudo cá para fora”) tem o efeito oposto do que o que aparenta. Ventilar acaba por reforçar a expressão de raiva e isso faz com que cada vez seja mais frequente e mais fácil que fiquemos zangados. Em contrapartida, a expressão calma da raiva (e outras) ajuda a lidarmos de uma forma mais eficaz com aquilo que estamos a sentir e com o que quer que a ativou.

Mito 10 – As pessoas não mudam

Quando vemos uma pessoa a agir de uma determinada forma, facilmente encontramos um adjetivo que descreve essa forma de agir (e.g., tímido, agressivo, solitário, corajoso). Depois se virmos novamente essa mesma pessoa a agir de uma forma que encaixa nesse adjetivo, concluímos que é assim que a pessoa é. E, por exemplo, achamos que uma pessoa fala pouco, não gosta de dar nas vistas e fica corada quando falam com ela, faz essas coisas porque é tímida. Porém, dizer que alguém faz X ou Y porque é tímido ou agressivo ou outra coisa, não está certo, porque estas palavras são meras descrições das nossas ações e não a causa da ação em si.

De uma forma breve, as pessoas fazem as coisas que descobriram que funcionam para elas num determinado contexto, e foram repetindo essas ações ao longo do tempo ao ponto de se tornarem intuição ou quase automáticas. Porém, a qualquer momento podemos aprender a agir de outros modos e testar se essas novas ações funcionam melhor ou pior para atingir as metas que desejamos e sermos a pessoa que gostaríamos.

Até à próxima,

Ricardo Linhares

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